quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

PE 2012 quarta rodada: consolidação da hegemonia dos “grandes”?

Léo, autor do primeiro gol coral: jogador refinado
            Renatinho comemora segundo tento tricolor com a Inferno Coral





Por Alberto Bezerra

Inicialmente o presente texto teria como aspecto central o fato de pela primeira vez no campeonato os três “grandes da capital” terem conseguido vencer numa mesma rodada; entretanto, de última hora percebi um problema, a saber, isto já acontecera na terceira rodada (como meu foco na rodada anterior foi a empolgante virada coral sobre o Serra Talhada, acabei deixando tal aspecto passar despercebido). Sem maiores problemas, coube-me apenas fazer uma pequena adaptação no escrito que agora vos apresento: encarar a quarta rodada do PE 2012 não como início, mas como possível consolidação da hegemonia dos grandes. Cabe aqui abrir um parêntese: não se trata de menosprezar os times considerados pequenos (aqueles que estão em condições de inferioridade financeira, que possuem poucos ou nenhum título e torcidas modestas), mas de analisarmos o campeonato duma maneira realista, pois, embora seja bastante comum que os times pequenos tirem pontos dos grandes em todos os campeonatos regionais (principalmente nas rodadas iniciais), é bastante difícil que um deles conquiste um título, dada as gritantes disparidades estruturais entre “grandes” e “pequenos”.
No caso do Náutico não houve novidade: quarta vitória do timbu em quatro jogos, desta vez contra o América, no estádio dos Aflitos. A vitória alvirrubra deu-se sem maiores dificuldades; a única consistiu em o time não ter conseguido abrir o placar no primeiro tempo (pairando no ar a dúvida acerca da possibilidade do “mequinha” conseguir segurar outro grande jogando em seus domínios, como fizera com o Sport na segunda rodada). No entanto (e como eu já frisara aqui), tal resultado não passara de um engano, servindo a vitória timbu sobre o América como apenas mais uma prova deste fato. O fato negativo da partida (que teve mais repercussão que o resultado) foi a forte entrada do lateral alviverde Maneco no atacante alvirrubro Rogério (um carinho rente a linha lateral) que ocasionou a ruptura de dois ligamentos do joelho do atleta (em imagens televisivas de vestiário pudemos ver que houve também um corte na canela do jogador, que precisou levar pontos). Estima-se que Rogério ficará pelo menos 6 meses longe do futebol. Faz-se necessário aqui dois comentários: 1) o atleta do América merecia sim ter sido expulso e merece alguma espécie de suspensão, pois foi deveras imprudente; 2) embora tenha sido uma entrada infeliz, a entrada de Maneco pode ser considerada criminosa (termo usado por alguns) no que concerne ao seu resultado, mas não a sua intenção, pois de fato o atleta visou (e atingiu) a bola, em seguida atingindo o jogador adversário. O que mais me chamou atenção foi a revolta com o árbitro: inicialmente pensei ter ele sido covarde, mas após relatos de que ele sequer daria amarelo, e só o fez por conta dos protestos dos jogadores do Náutico, ficou claro para mim o seguinte: ele não viu a jogada por um ângulo favorável e a responsabilidade por isso só pode lhe ser atribuída em parte, pois se  é obrigação do árbitro acompanhar os lances de perto, é igualmente obrigação de quem organiza os torneios (FIFA, CBF, FEP, etc.) dar subsídios aos juízes, o que efetivamente não acontece. Tal tema merece um texto específico. O fato é que em termos de regras o futebol está deveras arcaico, anacrônico, atrasado. Se há tanta resistência em permitir aos árbitros utilizarem imagens televisivas para terem maior segurança em suas decisões, o mínimo que se poderia fazer era aumentar o número de árbitros em campo.
Em Belo Jardim o Sport conseguiu vencer sem dificuldades o time que ostenta o nome da cidade, pelo dilatado placar de 3 x 0, consolidando assim sua reação no campeonato. Já no estádio do Arruda, o Santa Cruz enfrentou o Ypiranga (da cidade de Santa Cruz do Capibaribe), não parando por ai a relativa identidade entre os dois times, pois a equipe do agreste conta com o atacante Ludemar, que vestiu a camisa do tricolor pernambucano na série D do brasileiro de 2011, bem como com o técnico Dado Cavalcanti, que comandou a equipe coral em 2010. O time da casa entrou com a seguinte formação: Tiago Cardoso, Eduardo Arroz (Léo), Leandro Souza, André Oliveira e Renatinho; Anderson Pedra, Memo (Luciano Henrique), Weslley e Natan (Jefferson Maranhão); Flávio Recife e Branquinho e foi logo para cima do adversário, mas não teve competência para abrir o placar no início da partida e viu seu ímpeto ofensivo diminuir com o passar do tempo. Embora o goleiro Geday tenha feito muitas defesas, discordo da opinião dos radialistas que o consideraram o principal responsável pelo empate no primeiro tempo, pois penso que a maior parte de suas defesas foram fáceis, incluindo o pênalti (duvidoso, pois penso que foi bola na mão e não o contrário), batido de forma bisonha (fraco, rasteiro, no meio e “telegrafando”, ou seja, indicando onde vai bater) por Weslley. No final do primeiro tempo Júlio do Ypiranga foi expulso com o segundo amarelo, mas o placar não se mexeu.
Contando (mais uma vez, pois o mesmo aconteceu na maior parte dos jogos do Santa neste campeonato) com um jogador a mais, jogando em casa e não passando de um empate, o técnico Zé Teodoro resolveu ousar: Eduardo Arroz foi substituído por Luciano Henrique (que fez sua estréia com a camisa tricolor); o meia assumiu a posição de Weslley, que foi para a ala direita na vaga deixada por Arroz; Memo deu lugar a Léo (um a troca de jogadores da mesma posição – ambos volantes –, mas com características diversas, pois Léo tem excelente passe, dita o ritmo do jogo e auxilia com competência o ataque). E foi justamente Léo que abriu o marcador logo no início do segundo tempo: dominou uma bola afastada pela zaga e, na entrada da área, pelo lado esquerdo, deu um corte sutil no marcador e bateu colocado no lado esquerdo do goleiro Geday. Um golaço, esbanjando categoria. Com um jogador a menos e perdendo só restava à máquina de costura recorrer aos contra-ataques, mas não tendo êxito, viu a equipe coral ampliar sua vantagem aos 15 minutos com um chutaço de canhota de Renatinho da intermediária: outro golaço, novamente do lado esquerdo do goleiro adversário (é interessante salientar que no rádio se dizia – com certo excesso, como já frisei – que Geday estava pegando tudo, mas que como os chutes só iam para a sua direita, e como o único chute direcionado ao seu lado esquerdo no primeiro tempo lhe causou dificuldade, talvez a mina de ouro fosse chutar no seu lado esquerdo; penso que embora o lado esquerdo possa ser sim o mais fraco do goleiro, ambos os chutes foram muito bem executados, não havendo possibilidade de se falar em falha do arqueiro do Ypiranga). A beleza de ambos os gols foi tamanha que na edição do dia seguinte do Globo Esporte PE pediram para que Zé Teodoro escolhesse qual dos dois seria o candidato coral ao “gol do povo” naquela semana (ele escolheu o de Léo, que venceu os 2 concorrentes); por isso mesmo posto aqui os vídeos de ambos os gols.  Após o gol de Renatinho (que foi comemorar veementemente com a torcida organizada Inferno Coral, pois havia sido “flagrado” de boné – tentando passar despercebido – na torcida do Sport no jogo deste contra o Petrolina no estádio dos Aflitos, o que causou certo mal-estar – o atleta explicou que estava ali a pedido de sua namorada, que torce para o time rubro-negro – pois alguns torcedores do santinha acharam sua atitude errada) o Santa Cruz passou a administrar o jogo e o Ypiranga não fez maiores esforços para reverter o placar.
Quanto aos times do interior, o destaque foi o Salgueiro que, jogando em casa, bateu o Central por 3 x 0 (o time caruaruense, que tropeçara nas duas primeiras rodadas e se reabilitara em grande estilo ao golear o Porto por 4 x 0 voltou a perder o encanto, sendo derrotado por placar elástico); por sua vez o Porto tropeçou ao empatar (em casa) com o Araripina por 1 x 1. Por fim, o Petrolina (jogando em casa), bateu o Serra Talhada por 2 x 0, demonstrando assim que o bom futebol do “cangaceiro” não passou de “fogo de palha”.

Alberto Bezerra de Abreu, 02-03/02/2012, redigido ao som de Marcelo Camelo – “Toque dela”.


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