terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Equilíbrio marca primeira rodada do pernambucano 2012

                                  Weslley (Santa Cruz) cobrando penalti contra o Belo Jardim no Arruda...

         
                                              ... e comemorando o gol tricolor.

Por Alberto Bezerra

Em 2011 o campeonato pernambucano de futebol foi marcado pela onipresente “peitica” do hexa, tendo o azarão Santa Cruz vencido o torneio mesmo tendo folha salarial cerca de três vezes menor que a do Náutico e quatro vezes menor que a do Sport, e havendo montado o time inteiro recentemente, ao contrário dos rivais que conseguiram manter uma base de jogadores utilizados no ano anterior. Em suma, num campeonato que prometia ter como protagonistas Náutico e Sport em seu duelo particular pelo hexa (o primeiro querendo manter o monopólio deste título, o segundo desejando quebrá-lo) o coadjuvante Santa Cruz assumiu o papel de protagonista não só pelo título, mas também pela coesão do grupo e pelos destaques individuais de jogadores como o atacante Gilberto (cobiçado pelo Corinthians e negociado com o Internacional após o término do campeonato), o goleiro Tiago Cardoso (eleito craque do campeonato) e o técnico Zé Teodoro.
Em 2012 o campeonato pernambucano ganhou novas feições; após cinco anos de hegemonia leonina, o detentor e defensor do título passou a ser o Santa Cruz que, ao contrário do ano anterior, iniciou 2012 bem cotado não apenas por ter sido campeão pernambucano de 2011, mas por ter conquistado acesso a série C do campeonato brasileiro após duas tentativas frustradas de sair do chamado “inferno da série D”; além disso, em 2012 o clube pôde contar não só com uma base de jogadores utilizadas desde o primeiro semestre do ano anterior, incluindo-se ai o técnico, mas com contratações de peso como Luciano Enrique, Dênis Marques, Geílson e Carlinhos Bala, de modo que o clube coral certamente está entre os principais candidatos a campeão do torneio.
Por sua vez, Náutico e Sport também iniciam 2012 embalados por campanhas exitosas, pois ambos conseguiram acesso a série A do campeonato brasileiro no ano anterior, aumentando assim substancialmente sua renda e voltando a alargar o fosso que os separa do Santa Cruz. O timbu larga na frente do rival rubro-negro, pois não só conseguiu manter parte significativa de sua base (ao final da série B eu pensei o seguinte: se o Náutico conseguir segurar pelo menos 2 destes 3 jogadores – Derley, Eduardo Ramos e Kieza – ele terá feito muita coisa; no final das contas o time conseguiu manter os dois primeiros, embora ambos tenham estado perto de deixar o clube), como manteve o técnico Waldemar Lemos, que comandou a equipe durante todo o campeonato da série B, conseguindo dar ao time um equilíbrio que o treinador anterior (Roberto Fernandes) não conseguiu, somando-se a isso a contratação de bons jogadores como Souza e Cascata.
Já o Sport, embora tenha conseguido salvar o ano no finalzinho do brasileiro de série B (após ter perdido o título que lhe valeria o hexa para o Santa Cruz e ter amargado altos e baixos no brasileiro, ficando muito próximo de deixar o acesso escapar, o time rubro-negro conseguiu subir de divisão na última rodada), mostra-se uma equipe mais deficitária que seus rivais, pois, no decorrer de 2011 foi perdendo jogadores importantes (dispensados por não terem rendido o que a diretoria/comissão técnica esperavam, Ciro, Igor, Dutra, Carlinhos Bala e Daniel Paulista – todos integrantes do time campeão da copa do Brasil – não foram substituídos a altura), havendo ainda a possível dupla desvantagem de contar com o treinador inexperiente e cujo comando da equipe principal se deu em número muito menor de partidas em relação ao comandante alvirrubro e mais ainda em relação ao treinador tricolor, ambos treinadores que possuem seus respectivos elencos nas mãos.
Outro fator de destaque do campeonato pernambucano de 2011 foi a boa participação dos times do interior; o Central chegou a liderar a competição já no final do primeiro turno (após todos terem jogado contra todos nos jogos de ida) e chegou a vencer o Santa Cruz em pleno Arruda por 3 x 0; contudo, após a saída do treinador o time caiu vertiginosamente de rendimento e sequer conseguiu ficar entre os quatro primeiros (que se classificam para as semifinais); o Porto, por sua vez, chegou em terceiro lugar na após o final da primeira fase (marcada pelo enfrentamento de todos os clubes entre si em jogos de ida – turno – e volta – returno) e, embora tenha perdido ambas as partidas da semifinal para o Santa Cruz, teve o artilheiro da competição (Paulista, com 14 gols) e goleou o Central por 4 x 0 no clássico caruaruense (os quatro gols foram de paulista), cabendo ainda salientar que foram vários os tropeços dos clubes da capital diante dos interioranos, inclusive quando aqueles jogavam em casa; o mais prejudicado foi o Sport, que terminou a primeira fase em quarto, atrás do Porto, e por muito pouco não ficou de fora da semifinais (só entrou devido a já mencionada queda vertiginosa de rendimento do Central a qual, embora possa se atribuir em parte à saída do treinador, provavelmente deveu-se também ao suborno de alguns jogadores). Cabe salientar que nas fases de turno e returno o Sport perdeu três dos clássicos que disputou e empatou um (na Ilha, contra o Náutico), demonstrando assim que seus tropeços não se deram apenas contra os times “menores”.
Quando enfim a bola rolou no campeonato pernambucano de futebol 2012 o que se viu na primeira rodada foi o equilíbrio; os resultados atípicos se restringiram a dois: a goleada sofrida pelo América ante o Serra Talhada (campeão da segunda divisão estadual em 2011) por 4 x 0 mesmo jogando em casa e a derrota do arrumado e competitivo time do Salgueiro por 3 x 1 diante do Petrolina, embora a partida tenha sido no campo deste último. No que concerne ao clube “grandes”, embora dois dos três tenham estreado com vitória (e aquele que não venceu também não perdeu, e tendo jogado fora, no sertão, tal resultado não se mostrou de todo negativo), o que prevaleceu foi o equilíbrio; fica mais fácil percebê-lo se dividirmos os jogos de estréia de Náutico, Santa Cruz e Sport em dois tempos;
No caso do Náutico, o primeiro tempo foi duplamente do time alvirrubro: tanto no placar (2 x 0) quanto na atuação; já no segundo tempo o placar foi equilibrado (0 x 0) e o Porto teve maior volume de jogo; não sei se o time de Caruaru dominou o Náutico no segundo tempo tanto quanto este o dominou no primeiro, mas o fato é que foi o Porto quem esteve mais perto de marcar no segundo tempo, com direito a gol incrível (na pequena área, sem goleiro) perdido pelo tricolor do agreste;
O caso do Sport foi o de mais nítido contraste: pelos “melhores momentos” que vi e os relatos que ouvi, a equipe rubro-negra não viu a cor da bola no primeiro tempo; coube ao Araripina a superioridade tanto no placar (1 x 0)  quanto no volume de jogo (além do gol, o goleiro Magrão fez pelo menos duas boas defesas em chutes de fora da área); já no segundo tempo a coisa se inverteu, cabendo ao leão a superioridade tanto no placar (1 x 0) quanto na qualidade do futebol apresentado (Renato, autor do gol,chegou a carimbar o travessão adversário). Em suma, num jogo em que o primeiro tempo foi todo de um time e o segundo todo de outro o empate foi o resultado que melhor exprimiu o equilíbrio da partida.
O jogo do Santa Cruz merece ser analisado em maiores detalhes, pois eu estava no estádio; único dos três “grandes” da capital a estrear em casa e, ostentando o título de campeão da edição passada do torneio, cabia ao tricolor do Arruda a responsabilidade de fazer uma boa apresentação. Eis a escalação do time coral: Tiago Cardoso, Eduardo Arroz (Léo), Éverton Sena, André Oliveira e Dutra (Jéfferson Maranhão); Chicão (Natan), Memo, Weslley e Renatinho; Flávio Recife e Branquinho; com a pendência do zagueiro Leandro Souza, que esteve perto de se transferir para um clube de outro país, coube a Éverton Sena (ótimo marcador individual, mas limitado zagueiro) forma a dupla de zaga com o também limitado André Oliveira; no ataque, o recém contratado Branquinho fez dupla com Flávio “caça rato” Recife, sendo estas as únicas modificações em relação a equipe que fez os últimos jogos do clube em 2011.
Jogando em casa, o tricolor tratou de buscar a vitória e iniciou o jogo melhor que o adversário; ainda no início, Weslley, pela direita chutou cruzado de canhota fazendo a bola passar relativamente perto de trave. A resposta do Belo Jardim foi uma jogada individual de Parral (ex-atleta tricolor) pela direita com finalização rasteira e fraca no canto, defendida por Tiago Cardoso. Na melhor chance do santinha no primeiro tempo, André Oliveira cabeceou no travessão e Flávio caça rato pegou o rebote dentro da área e mandou por cima. Com o passar do tempo o ímpeto coral diminuiu e o Belo Jardim começou a gostar do jogo, tanto que aos 40 minutos, novamente pela direita, Parral cruzou para a cabeçada certeira de Candinho. Pareceu-me que a falha na marcação começou já no cruzamento (Parral conseguiu efetuá-lo sem maiores dificuldades) e persistiu na indecisão do goleiro e na falha de marcação de André Oliveira e Eduardo Arroz.
O logo após abrir o placar o Belo Jardim, que vinha abusando de algumas faltas mais duras, teve o zagueiro Laerson expulso após carrinho violento em Branquinho (que pulou para não ser atingido). O atacante coral teria a oportunidade do empate no final do primeiro tempo, mas errou feio a cabeçada, facilitando sobremaneira o trabalho do goleiro adversário. No intervalo, ambas as equipes permaneceram no gramado; pensei que Zé Teodoro estivesse repetindo a tática utilizada no jogo decisivo contra o Alecrim (RN) no Arruda na série D de 2011, onde, após abrir o placar e ver o adversário empatar, a equipe pernambucana não desceu para o vestiário no intervalo para que os jogadores não perdessem o calor da torcida por um momento sequer; assim, pensei que o fato de os jogadores do Belo Jardim terem permanecido também no campo durante o intervalo fizesse parte duma estratégia de seu treinador de imitar Zé Teodoro, pois o técnico do time visitante havia dito se inspirar no treinador coral; porém, li em algum jornal que o real motivo foi uma queda de energia durante o intervalo. Vai saber...
A equipe coral voltou sem substituições na segunda etapa, mas demonstrando uma outra postura; embora tenha criado menos chances claras de gol no segundo tempo, de uma maneira geral a equipe jogou melhor na etapa complementar, pois pôs mais e bola no chão e a tocou com mais competência, fazendo-a rodar e envolvendo assim o adversário; dessa forma, já aos 9 minutos, em jogada individual pela ponta esquerda, Flávio caça rato entrou na área e foi derrubado pelo defensor adversário. O pênalti foi assinalado e convertido com muita competência por Weslley. O time coral continuou pressionando: Memo acertou um chutaço da intermediária, espalmado para escanteio pelo goleiro; Branquinho, aos 27 dominou a bola dentro da área, mas, de costas, não conseguiu finalizar; Eduardo Arroz chutou rasteiro de perna esquerda a esquerda do goleiro, fazendo a bola passar relativamente perto da trave.
Como o time não conseguia fazer o segundo gol e tinha um jogador a mais em campo, o treinador Zé Teodoro resolveu mexer na equipe, no intuito de torná-la mais ofensiva: pôs o meia Natan no lugar do volante Chicão e o meia-atacante Jefferson Maranhão no lugar do lateral esquerdo Dutra (o meia Renatinho passou a atuar pela ala esquerda); assim, o time coral deixou de ter dois volantes e dois meias para ter um volante apenas (Memo) e  três meias (Natan, Maranhão e Wesley). Embora o site Coral Net diga que Léo entrou antes do segundo gol tricolor, tenho minhas dúvidas quanto a isso; de qualquer forma, com a saída do lateral direito Eduardo Arroz e a entrada do volante Léo coube a Weslley atuar pela ala direita e o time voltou a ter dois volantes (Memo e Léo) e dois meias (Maranhão e Natan), ficando menos ofensivo (por conta disso, bem como pelo fato de Léo ter entrado para cadenciar o jogo, penso que o volante entrou após o segundo gol coral); este saiu de um outro pênalti: ao recebe um lançamento pela direita, Branquinho (indo em direção a linha de fundo e sem a menor condição de finaliza ou mesmo de dar um passe de imediato) foi infantilmente empurrado pelo defensor adversário. Novamente Weslley cobrou bem o pênalti e decretou a virada tricolor. Léo soube cadenciar o jogo e no fim teve chance de marcar, mas, avançando pela direita do ataque coral chutou rasteiro no canto esquerdo do goleiro, que defendeu (penso que se ele chutasse cruzado faria o gol com certa facilidade até, mas parece que ele chutou como deu).
Em suma, com sofrimento (como é de praxe no Santa Cruz) o atual campeão pernambucano estreou com vitória de virada. Embora no primeiro tempo o jogo tenha sido do Belo Jardim em termos de placar (1 x 0), em termos de volume de jogo o santinha foi superior nos dois tempos; assim, o equilíbrio aqui deu-se apenas em relação ao placar (cada time venceu um tempo).
Para finalizar, cabe discorrer brevemente sobre as polêmicas da partida: os dois pênaltis marcados pelo árbitro o foram acertadamente em minha opinião (e também na opinião do comentarista de arbitragem da rede Globo Nordeste, Valdomiro Matias); a expulsão do jogador do Belo Jardim também me pareceu justa (e assim também pensou o comentarista global); a não expulsão do zagueiro coral André Oliveira (numa jogada em que ele foi no corpo do adversário que, não fosse a falta, ficaria cara a cara com o goleiro, sendo que o defensor já tinha cartão amarelo) foi um erro do árbitro (que nem falta deu!) (e mais uma vez o comentarista da globo concordou comigo). Porém, se é verdade que o defensor coral deveria ter sido expulso antes do defensor do Belo Jardim, é igualmente verdade que o juiz deixou de dar alguns cartões amarelos para jogadores do time visitante e, se o tivesse feito, talvez eles tivessem tido algum jogador expulso antes. Em suma, ambos os times foram prejudicados pela arbitragem e venceu aquele que jogou melhor.

Alberto Bezerra de Abreu (madrugada de 23/01/2012, redigido ao som de Charles Mingus)



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